Crônica para lembrar Geraldo Markan


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CRÔNICA PARA LEMBRAR GERALDO MARKAN

Cláudio Portella

Escritor




Eu conheci o homem. Uma noitada, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no palco sob a passarela, ele já nos braços de Baco, me dizia ao ouvido uma série de poemas. Como esquecer aquela noite em que Geraldo Markan (1929 – 2001), um dos mais profusos (aqui no sentido da dimensão de sua obra) teatrólogo cearense, declamava em surdina, quase dizendo segredos de liquidificador, lindos versos no meu ouvido esquerdo?

O experimentado teatrólogo parecia querer conquistar em mim, um espaço que já lhe pertencia. Eu já conhecia, há um bom tempo, o seu livro de peças teatrais Salve a zebra tupiniquim. Já havia me encantado com o monólogo Nabucodonosor. Finalmente, a figura careca da quarta capa do livro que li na adolescência, estava a me dizer versos numa noite do ano 2000.

Estaríamos ali de fato? Ou eu estaria sonhando outro dos meus sonhos esquisitos? Segundo as profecias, o mundo deveria ter acabado naquele ano. Tanto faz, fosse aquilo onírico ou real. O fato é que eu conheci o homem, o genial teatrólogo que um ano depois passaria dessa pra melhor. Vai se saber se a morte é realmente pior que a vida?! Eu que sempre fui um otimista, diria que a morte é uma viagem excepcional, mas nada de comprar o bilhete com antecedência. Devemos curtir bem a véspera da viagem. E foi isso que Geraldo Markan fez, curtiu adoidado. Parece que para a família Markan não há tempo ruim. O riso bonachão é uma tônica de família.

Pelo que sei, pelo boato que correu na cidade, Geraldo Markan morreu na praia de Canoa Quebrada. A mais esotérica e uma das mais bonitas praias do Ceará. Sua família tem uma casa lá. Morreu rindo, entrando no mar de Canoa, para um último mergulho.

Em 2002 passei as férias no Piauí. Em Teresina, pra surpresa minha, o renomado ator piauiense Pelé, encenava o monólogo Nabucodonosor, do Geraldo Markan (suas palavras ainda marulhavam em minha cabeça). Fui vê o espetáculo e tirei fotos. Havia muito que lera o monólogo do Markan, mas a cada palavra, a cada movimento de Pelé, eu revivia a leitura. O que dizer para lembrar Geraldo Markan, que a memória rediviva da encenação de seus trabalhos não diga? Eu quero mais!



Cláudio Portella é escritor, poeta e resenhista literário. Nasceu em Fortaleza em 1972. Autor de Bingo!(Porto – Portugal: Editora Palavra em Mutação, 2003) e de Os Melhores Poemas de Patativa do Assaré (São Paulo – SP: Global Editora, 2006). Figura em mais de 30 antologias literárias, entre nacionais e estrangeiras. Seus trabalhos estão traduzidos em vários idiomas. O escritor é publicado em revistas, jornais, suplementos, revistas eletrônicas, sites, blogs e flogs. Contato: clautella@ig.com.br

2 comentários:

Unknown disse...

Carlos, a postagem ficou bem legal. Abração!CP

Francisco Pellé disse...

Prezado Carlos,
Foi com alegria e misto de supresa que li seu post, me enviado por Zaza Sampaio, grande amigo de Markan. A delicia dos textos de Markan me contagiam muito, no momento estudo outro texto, para montagem em breve. MISS MAGUARÍ.

abraços

Francisco Pellé

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